sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Madonna e o Cinema! - Os Filmes!


Madonna e o Cinema!

- Os Filmes!

1. - Tudo começou no Tennesse, num domingo de manhã. Ela tinha-se levantado da cama e começara um dos seus rituais, ele olhava-a deslumbrado e quando ela encontrou a chama dele na pupila, leu-lhe o pensamento e respondeu-lhe imediatamente que sim. Ele não abrira a boca, mas o seu coração batia violentamente. Pouco tempo depois casaram-se. Mais tarde veio a separação. Ela, durante muitas noites de luar, sonhou com ele e durante muito tempo confessou a sua paixão. Mas os confrontos dele com os jornalistas deixaram marcas profundas para sempre, os anos passaram e cada um seguiu as suas vidas, ele encontrou a Robin e a Theron e mostrou a todos o seu talento de actor e cineasta, ela encontrou o Guy e nunca deixou por mãos alheias o seu fascínio no mundo da música, os anos passam e ela continua a dar cartas no universo musical, enquanto no cinema já ofereceu o seu talento ao mundo, ela deixou para trás Guy e ele lá se vai reconciliando de tempos a tempos com as mulheres, tendo já dois Oscars no curriculum, ele chama-se Sean Penn e ela Madonna.

"A Certain Sacrifice"

Madonna Louise Verónica Ciccone nasceu no Michigan e desde muito cedo sentiu o apelo da música. Foram aliás os tios, membros de um grupo rock com sede em Bay City, que lhe ofereceram o conhecimento da comunicação da música com a vida, sendo lá que pela primeira vez umas “jeans” sentiram as suas pernas e os seus lábios tocaram o primeiro cigarro. Os tempos de solidão vividos na infância estavam decididamente perdidos e nunca mais iria procurar refúgio no quarto do pai, após a morte da mãe.

Antes da música viria, no entanto, a dança e a auto-disciplina que o seu estudo exigia, transmitindo-lhe o amor-próprio e a confiança necessárias para a realização dos seus sonhos. No ballet dá-se o encontro inevitável com a música erudita, nascendo o amor (pouco conhecido) pelo Barroco, muito em especial Bach e Haendel.

"Vontade de Viver" / 
"Vision Quest"

A atracção de Nova Iorque acabou por levá-la para a grande metrópole, como não podia deixar de ser, e aí começou a sua carreira de modelo. Os amigos já eram muitos e as solicitações inúmeras, nascendo então as famigeradas fotos de Madonna, publicadas anos mais tarde na “Playboy” e “Penthouse”. Curiosamente essas célebres fotos foram pagas pela própria Madonna, a fim de corresponder aos pedidos que lhe chegavam diariamente. A nudez, segundo ela afirmava na época, era simplesmente uma forma de arte e nunca encontrou pornografia na obra de Michelangelo, era tudo uma questão de olhar.

"Desesperadamente Procurando Susana" / 
"Desperately Seeking Susan"

A carreira de modelo tinha sido uma vitória e o apelo da música, memória da época passada com os tios, não se fez esperar. Nasceu “Holliday”, o seu primeiro “hit”, que apesar de algum sucesso só foi divulgado nas chamadas “Black Stations”. Já se vivia a época da terceira revolução visual: o “video-clip”. Porém, só com “Boderline” e o “clip” correspondente, Madonna viu chegar o reconhecimento e o sucesso. Do anonimato à fama, no universo da “pop-music”, foi um passo. A América tinha descoberto um novo “sex-symbol”, destinado a ocupar o lugar deixado vago, durante tanto tempo, por Marilyn Monroe.

"Xangai" / 
"Shanghai Surprise"

Mas a América e os “mass-media” optaram por oferecer uma imagem “oca” de Madonna, não se preocupando ela com a situação, como ficou bem patente na película de Alek Keshishian intitulada “Na Cama com Madonna”, demonstrando saber usar o escândalo a seu favor e gerindo sabiamente a sua imagem para consumo.

"Quem é Aquela Garota?" / 
"Who's That Girl?"

2. - Na realidade, aquilo de que mais gosta Madonna é ler, segundo disse numa entrevista dada a Harry Dean Stanton, na famosa “Interview” de Andy Warhol. Confessou até ser amante dos clássicos e da literatura francesa, fruto do período passado em Paris. Embora os nomes de Jack Kerouac e Charles Bukovski na área da denominada literatura “beatnick” sejam os seus preferidos.

Curiosamente, os seus gostos musicais andam longe do que se poderia pensar, pois admira Sarah Vaugham, Ella Fitzgerald e o inevitável Tom Waits. Quando ainda sonhava com o universo das estrelas e astros da Pop, a sua “professora” era Joni Mitchell, escutando o álbum “Court and Sparks” centenas de vezes. Rickie Lee Jones é outro dos nomes que gosta de escutar ou seja duas “songwriters” fundamentais da música popular norte-americana.

"Fim de Ano na Broadway" / 
"Bloodhounds of Broadway"

No que diz respeito ao cinema considera Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Mike Nichols e Roman Polanski, os seus cineastas preferidos, tendo um grande desgosto por nunca poder vir a trabalhar com o realizador alemão Rainer Werner Fassbinder, já falecido, que como sabemos foi o maior cineasta alemão do pós-guerra.

Durante a atribulada rodagem da terceira parte de “O Padrinho” de Francis Ford Coppola, ela tudo tentou para participar na película, mas o realizador acabou por optar pela própria filha, o que se revelou uma aposta simplesmente desastrosa. Recorde-se que a intérprete indicada para o papel, Winona Ryder, teve um esgotamento que a obrigou a abandonar as filmagens e Sofia Coppola, que acabaria por nos mostrar o seu valor como realizadora, já como actriz deixou os seus dotes bem expressos em “O Padrinho III” ou seja o pior erro de “casting” de toda a carreira de Francis Coppola e ao recordarmos a genial película fica sempre no ar a eterna interrogação, como seria Madonna a interpretar a jovem Mary Corleone em “O Padrinho III”?

"Dick Tracy"

A introdução da estética dos “vídeo-clips” e a criação da “MTV”, a par da necessidade da “pop-music” de obter uma imagem visual identificadora dos seus heróis, levou Madonna ao cinema. Mas se ela foi, durante largos anos, a menina bonita da “MTV”, sendo a presença dos seus “vídeo-clips” uma constante nos diversos canais televisivos que entretanto foram surgindo em todo o mundo, acabaria também por ver “Justify My Love” censurado pela MTV.

A viagem de Madonna pelo interior da Sétima Arte será, inevitavelmente, acompanhada pelo fantasma de Marilyn Monroe e em “Dick Tracy”, esse fabuloso filme de Warren Beatty, ele é uma constante.

"Sombras e Nevoeiro" / 
"Shadows and Fog"

O seu primeiro filme, “Desesperadamente Procurando Susana” / “Desperately Seeking Susan”, reflectiu a imagem inicial de Madonna, aliás brilhantemente elaborada no primeiro “Live Aid”, a realização foi de Susan Seidelmann, cineasta oriunda do cinema independente, responsável por um brilhante “Estilhaços” / “Smithereens”, premiado em Cannes.

“Desesperadamente Procurando Susana” foi um enorme sucesso para todos, incluindo Rosanna Arquette. Foi esta a primeira época de ouro de Madonna. O então jovem casal irá participar num segundo filme, uma daquelas encomendas dos Estúdios para ambos brilharem e rentabilizarem a sua imagem, mas as aventuras em “Xangai” / "Shanghai Surprise" de Jim Goddard terminou por não se revelar esse sucesso que muitos ambicionavam.

"Liga de Mulheres" / 
"A League of Their Own"

Mais tarde foi a vez de “Who’s That Girl” de James Foley, que também pouco animou as plateias. Na realidade, embora Madonna afirmasse ser a reencarnação de Marilyn, os seus dotes artísticos estavam a anos-luz de Miss Monroe, mas também Marilyn só ao fim de muitas películas é que encontrou o êxito com “Niagara”, quantos se lembram dela nesse filme assombroso intitulado “Clash By Night”, de Fritz Lang?

3. - A separação de Madonna e Sean Penn trouxe uma vida diferente à estrela da pop music e, os seus vídeos “The Virgin Tour” e “A Certain Sacrifice” foram bem recebidos e o encontro com o então conquistador e eterno solteirão Warren Beatty acabaria por dar os seus frutos.

“Dick Tracy”, projecto antigo do “wonder-boy”, teve luz verde dos Estúdios Disney e a sua subsidiária Touchstone deu início à produção. Madonna iria lá estar e a sua presença seria o trunfo da película, não só na interpretação, mas também nas canções de uma fabulosa banda sonora, terminando por receber um Óscar, bem merecido, pela sua interpretação da conhecida canção “Sooner or Later” de Stephen Sondheim.

"Corpo de Delito" / 
"Body of Evidence"

A película foi um êxito e a sua qualidade inquestionável, de tal forma é perfeita a transposição das figuras da banda desenhada criada por Chester Gould para o grande écran. O público acorreu em peso à película, mais por ela do que por outro elemento cinematográfico e quando, numa daquelas entrevistas feitas à saída das salas, o jornalista perguntou a um jovem quem era o Warren Beatty (realizador e actor principal da película), a resposta recebida foi que ele era o “velhote” que namorava com a Madonna.

Assim foi, até ao filme de Alek Keshishian “Na Cama com Madonna” / “Madonna: Truth or Dare”, tendo até Warren Beatty participado na rodagem do documentário, mas a bela Annette Bening já andava por perto e o sempre sedutor Beatty não se fez rogado e partiu para o seu novo amor, transformado hoje em dia num dos matrimónios mais sólidos de Hollywood, como todos sabemos.

“Na Cama com Madonna” / “Madonna: True or Dare” pretende ser o elemento primordial para a criação do mito, embora fosse demasiado cedo. Os mitos, como referiu Edgar Morin, necessitam de estar mortos e eternamente jovens, como sucedeu com James Dean, Marilyn Monroe e Monty Cliff.

"Linha de Separação" / 
"Snake Eyes"

“Verdade ou Consequência”, título utilizado no mercado americano pela película, acaba por se apresentar bastante limitado, ao pretender mostrar a vida pública e privada de uma estrela. As imagens não são contagiantes e o fio condutor sofre oscilações entre a vida real de Madonna e a ficção criada no imaginário colectivo. Já a realização das suas actuações em diversos concertos são verdadeiramente electrizantes.

Nunca é demais recordar que o seu “polémico” livro de fotos “Sex” foi um “best-seller”. Assim como o seu video-clip “Erótica”, que mais uma vez foi “censurado” na “MTV”, só passando nas televisões depois de soar a meia-noite.

"Fumo Azul" / 
"Blue in the Face"

Na célebre canção “Vogue”, que encerra essa obra-prima que é a banda sonora do filme “Dick Tracy” e onde o Glamour é o tema, são referidas ao longo da letra da canção as seguintes personagens: Greta Garbo, Marilyn Monroe, Joe Di Maggio, Marlene Dietrich, James Dean, Marlon Brando, Grace Kelly, Jean Harlow, Gene Kelly, Fred Astaire, Ginger Rodgers, Laureen Bacall, Rita Hayworth, Katherine Hepburn, Alan Turner e Bette Davis, na verdade uma constelação de estrelas imortais, às quais somos obrigados a juntar o nome de Madonna.

Entretanto, no cinema, a estrela da “Pop” irá recusar os principais papéis em “Show Girls” de Paul Verhoeven, (demonstrando um enorme saber), no célebre e memorável “Os Fabulosos Irmãos Baker” / “The Fabulous Baker Boys” realizado por Steve Kloves, o futuro argumentista de Harry Potter (que erro crasso, esta recusa da estrela da pop), onde Michelle Pfeiffer brilhou a cantar e “Batman Returns” onde lhe foi oferecido o papel de “Catwoman” (percebeu que não iria conseguir vestir a pele da personagem), embora tenha aceitado fazer a sua estreia teatral em “Speed-the-Plow” ao lado de Joe Mantegna e Ron Silver com encenação de David Mamet, onde demonstrou todo o seu enorme talento.

"4 Quartos" / 
"Four Rooms"

4. - Em 1992 Madonna surge em dois filmes: “Shadows and Fog”/”Nuvens e Nevoeiro” realizada por Woody Allen, uma homenagem ao expressionismo alemã do cineasta de Manhattan, onde a sombra do universo kafkiano paira ao longo de toda a película de forma sublime, apesar do insucesso comercial e no chamado filme de mulheres e de baseball, neste caso concreto, intitulado “A League of Their Own” / “Liga de Mulheres”, dirigido por Penny Marshall.

"A Rapariga: Código 6" / 
"Girl 6"

No ano seguinte é cabeça de cartaz no thriller “Body of Evidence” / “Corpo de Delito” de Uli Edel, onde a sua nudez acaba por não cativar as audiências, apesar de ter ao seu lado esse genial actor chamado Wilhem Dafoe e mesmo a passagem por “Dangerous Game” / “Linha de Separação” desse cineasta de culto, chamado Abel Ferrara, não conseguem enviar Madonna para o firmamento cinematográfico das estrelas de cinema. Já na divertida película “improvisada” “Blue in the Face” / “Fumo Azul” de Paul Auster e Wayne Wang, uma espécie de continuação de “Smoke”, em que são os próprios actores a construírem os diálogos e em que as deixas ultrapassam as palavras escritas no “argumento”, Madonna surge como a “Singing Telegram”, numa aparição cheia de magia e humor.

"Evita"

Como todos estão recordados, na película “Na Cama com Madonna” há o encontro com o actor espanhol António Banderas, onde ela confessa o seu desejo de contracenar com ele num filme. Seria o cineasta britânico Alan Parker, com a película “Evita”, a proporcionar a Madonna a concretização desse mesmo desejo. O filme é muito mais do que um romance histórico, como todos sabemos e a banda sonora contou com uma Madonna ao seu melhor nível, já a sua interpretação ao lado de António Banderas e Jonathan Price é soberba, não deixando indiferente o mais comum dos mortais, tal é a forma como ela entra na personagem de Eva Peron, a célebre Evita, imortalizada no Teatro pela dupla Andrew Lloyd Weber e Tim Rice, que veriam o seu trabalho no cinema reconhecido com o Oscar, mas Madonna foi esquecida pela Academia de Hollywood, ao contrário do que muitos pensaram ao verem o filme de Alan Parker, deixando inevitavelmente a actriz destroçada pelas opções da Academia de Hollywood.

"Ligações Imprevistas" / 
"The Next Best Thing"

No início do novo milénio Madonna surge como principal intérprete na comédia de John Schlesinger, “The Next Best Thing” / “Ligações Imprevistas”, ao lado de um Rupert Everett brilhante e hilariante, que nos conta a relação fortuita entre um gay e uma mulher bela e emancipada, que origina o nascimento de uma criança, fruto de uma noite em que o álcool terminou por trocar as voltas e as cabeças a duas pessoas cuja amizade não se estendia ao campo sexual. Ambos decidiram criar a criança, mas a passagem do tempo e os encontros que a vida proporciona, levariam a que cada um seguisse o seu caminho sem ressentimentos.

"Ao Sabor das Ondas" / 
"Swept Away"

Esse ano marca também o seu encontro com o cineasta britânico Guy Ritchie, com quem se viria a casar. Mas como por vezes o amor e o desejo conjugados com objectivos idênticos produzem maus resultados, a película “Swept Away” / “Ao Sabor das Ondas” realizada por Guy Ritchie e tendo Madonna como protagonista revelou-se um fracasso comercial, tendo em alguns países ter sido lançado o filme directamente no mercado de dvd, sem passar pelas salas de cinema.

Continuando a dar cartas na “pop-music” e a ser um verdadeiro “Icon” no mundo do espectáculo, Madonna Louise Verónica Ciccone, teve um grave acidente quando caiu do cavalo, mas esta estrela que até foi pensada para a interprete feminina de “Casino” de Martin Scorsese, (a intérprete escolhida seria Sharon Stone), prossegue a sua carreira musical nunca deixando de nos surpreender, mas continuando a pensar no cinema como a sua grande paixão, tendo já feito a sua estreia como realizadora em “Filth and Wisdom” / “Sujidade e& Sabedoria”, em parte fruto dos anos passados na companhia Guy Ritchie de quem entretanto se divorciou, mas também do seu desejo de experimentar o mundo do cinema do outro lado da câmara.

"007 - Morre Noutro Dia" / 
"007 - Die Another Day"

Já o saldo negativo que representou a película seguinte que dirigiu, que nos conta o famoso romance entre o monarca britânico Edward VIII e a americana Wallis Simpson intitulada “W.E.”, cujo argumentou assinou em conjunto com Alek Keshishian, o realizador de “Na Cama com Madonna” / “Madonna: Truth or Dare”, levou a que a Madonna tenha decidido fazer uma pausa na área da realização, embora o cinema permaneça no seu horizonte, como uma verdadeira atracção fatal.

Na realidade, a sua confessada admiração por essa eterna estrela da constelação de Hollywood chamada Katherine Hepburn, é um bom prenúncio, para quem ama tão intensamente o universo cinematográfico.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. Madonna possui no ceu curriculum cinematográfico uma interessante filmografia, tendo em conta os filmes de que foi protagonista e entre os meus favoritos encontram-se "Dick Tracy" com uma banda sonora fabulosa, aliás para mim este é o melhor trabalho discográfico de Madonna, assim como o genial "Evita" de Alan Parker, em que a rainha da pop, bem merecia ter recebido o Oscar!

    ResponderEliminar