Uma viagem pelo universo do cinema, música, livros, rádio, banda desenhada, arte, séries & etc.
domingo, 15 de dezembro de 2024
Tabacaria Orquidea!
Tabacaria Orquidea!
Na Tabacaria há jornais e revistas,
tabaco, fósforos e isqueiros,
lápis, canetas, borrachas e apara-lápis,
mas também tinteiros,
pequenas bombas de gasolina
a dez tostões para isqueiros
e latas de gaz para isqueiro, para os mais finos,
vejo-me aflito a encher os isqueiros
e a colocar correias nos relógios.
Também temos livros
dos clássicos às coboiadas,
Corin Tellado e familiares,
policiais, guerra e o Asimov para quem fuma cachimbo,
mais o Vilhena debaixo do balcão para os amigos!
Uns são vendidos e outros alugados
15 tostões os mais antigos e dois escudos as novidades.
Depois há os postais, para todos os géneros:
aniversários, romance e uns mais atrevidos debaixo do balcão.
Na Tabacaria temos pastilhas elásticas Pirata para os miúdos
e chocolates da Regina para os gulosos.
Come chocolates pequena, como dizia o Engenheiro.
Mas Digital não temos, caro Costa,
por aqui há envelopes, papel de carta, avulso e em blocos,
confesso que adoro os de papel fino para avião,
mas tenho pena dos de tarja preta e dos seus clientes.
A tabuada do Ratinho vende-se bem e já a decorei toda a cantar,
os cadernos de duas linhas ajudam-nos a ter uma letra bonita,
os quadriculados a respeitar os números nos quadrados,
os de desenho dizem se temos talento,
mas do que gosto mesmo são das sebentas,
com aquele cavaleiro andante parecido com o Ivanhoe!
Sabonetes e dentífricos também se vendem bem,
Nove em cada 10 estrelas de Hollywood usam Lux,
(não sei se os números estão certos)
mas eu gostava era do Nordika,
tinha aquele cheiro dos pinheiros da Escandinávia
(embora nunca lá tivesse estado).
Mais o 4711 e a Bien Être para oferecer à namorada
e as alianças a 25 tostões muito procuradas,
por essas raparigas simpáticas que navegam no Bairro,
uma delas um dia perguntou-me se tinha camisas de Vénus,
era bem gira, confesso!
Quando chega o Natal a Tabacaria muda de cor,
fica cheia de brinquedos, jogos e bonecas,
as gentes do Bairro, nessa véspera de Natal,
levaram-nos a fechar a porta muito depois das nove da noite,
para despachar o embrulho das prendas
usámos uns laços já feitos que estavam para venda
e depois lá fomos comemorar o Natal para o Largo do Carmo.
Na Tabacaria, que abria às sete da matina
e fechava muitas vezes depois das nove,
havia de tudo: meias de senhora, pentes, atacadores, brincos,
e todo um universo que insistem em nos eliminar da memória.
Não se parava um minuto, mas eramos felizes sem o digital.
Rui Luís Lima
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