1. - Quando Mickey Rourke surgiu no grande écran, uns falaram num novo Robert De Niro e outros num Al Pacino, mas Mickey Rourke não iria ser nada disso e a imagem do jovem Marlon Brando de “The Wild One” estava à sua medida e acabaria por se lhe colar à pele contra sua vontade.
"Noites Escaldantes"
Nascido em Schnectady – New York, seguiu com a mãe e a restante família para Miami, após o divórcio dos pais, vivendo aí na chamada Liberty City. Jogou baseball, praticou boxe, andando pelos ringues como pugilista amador. Nos anos setenta, do século XX, passeava pelas praias, olhando as raparigas com o seu olhar de galã um tanto andrógino. O cinema vivia no seu imaginário e depois de conseguir um empréstimo de 400 dollars da sua irmã, regressou a New York, onde vendeu gelados, trabalhou num parque de estacionamento, foi porteiro de clubes “muito nocturnos”. Nos tempos livres estudava a arte de representar.
"Diner - Adeus Amigos"
Cinematograficamente, tudo começou quando ele “ajudava” William Hurt, no filme de Lawrence Kasdan “Noites Escaldantes” / “Body Heat”, a fabricar a bomba que iria matar Richard Creena ou se preferirem a personagem Edmund Walker. Depois do filme de Kasdan e ausente dessa obra retrato de uma geração intitulada “Os Amigos de Alex” / “The Big Chill”, Mickey Rourke irá fazer parte dessa outra constelação nascida em “Dinner – Adeus Amigos” de Barry Levinson, interpretando um jovem jogador que vivia intensamente as apostas que fazia, enganando tudo e todos, excepto a namorada de um amigo: a tal aposta perdida!
"Rumble Fish - Juventude Inquieta"
Não fazendo parte desse viveiro intitulado “Os Marginais” / “The Outsiders”, porque Francis Ford Coppola o achava demasiado “velho” para o elenco, terminaria por se transformar no rapaz da mota em “Rumble Fish” / “Juventude Inquieta”, verificando-se o nascimento de um novo Brando, devido às características do seu trabalho como actor: o olhar fixo, a voz arrastada e a postura em relação a “The Wild One” / “O Selvagem” de Laslo Benedek, onde Marlon Brando era o herói ou o mais que célebre célebre “Há Lodo no Cais” / “On The Waterfront” de Elia Kazan.
"Eureka"
Amigo do cineasta Nicolas Roeg, antigo director de fotografia de David Lean, acabaria por participar em “Eureka” ao lado de Theresa Russell, Gene Hackman e Rutger Hauer e mais tarde em “The Pope of Greenwich Village” / “Iniciação ao Crime” de parceria com Eric Roberts, o irmão de Julia Roberts.
"Iniciação ao Crime"
2. - Michael Cimino e o seu filme “O Ano do Dragão” / “Year of the Dragon” iriam dar a Mickey Rourke a oportunidade tão desejada pelo actor, ao personificar a figura de Stanley White, o detective que pretendia limpar Chinatown, acabando por descobrir como as regras do jogo são mais fortes que a vontade dos homens.
"O Ano do Dragão"
O novo herói estava lançado e até uma nova moda nasceu: o “look” da barba por fazer (dois ou três dias é o ideal), oferecendo um visual de beleza mortífera. “Nove Semanas e Meia” / “9 ½ Weeks” de Adrian lynn é o melhor exemplo da imagem de Mickey Rourke, vivendo ao lado da escaldante Kim Basinger, saída de fresco da pele de “Bond Girl”, uma louca relação amorosa, violentamente apaixonante, onde a estética do “vídeo-clip” e da publicidade fizeram história, ao mesmo tempo que o cinema erótico marcava pontos.
"Nove Semanas e Meia"
“Nas Portas do Inferno” / “Angel Heart” seria o derradeiro filme do apogeu ao Paraíso de Hollywood, para Mickey Rourke, sendo o seu realizador Alan Parker, uma película na qual o actor veste mais uma vez a pele de detective privado, tão amado do “cinema noir”, e aqui Harry Angel terá que se defrontar consigo mesmo ao aceitar o estranho trabalho para o qual fora contratado pelo sinistro Louis Cyphre, interpretada por Robert de Niro.
"Angel Heart - Nas Portas do Inferno"
“Os Guerrilheiros da Sombra” / “A Prayer for the Dying” de Mike Hodges seria o polémico filme seguinte, no qual interpreta a figura de um ex-guerrilheiro do IRA que, após um atentado contra uma coluna do exército britânico falha o objectivo, em virtude de um autocarro escolar ter ultrapassado essa mesma coluna militar, passando por cima das minas destinadas aos “british”, provocando assim a morte de vidas inocentes.
"Os Guerrilheiros da Sombra"
Após os trágicos acontecimentos, o guerrilheiro Martin Fallon (Mickey Rourke) refugia-se em Londres para partir para a América e ao fazer um último “trabalho” num cemitério, termina por ser “vítima” de uma testemunha ocular, o padre Michael da Costa (poderosa interpretação de Bob Hoskins), mas o guerrilheiro irá utilizar o célebre segredo da confissão para manipular o padre e o impedir de o denunciar às autoridades, mas a realidade irá tornar-se bastante complexa para o actor, porque precisamente após a feitura do filme de Mike Hodges, os atentados do IRA intensificam-se e em plena conferência de Imprensa no Festival de Cannes, onde o filme será apresentado, o actor confessa as suas simpatias pelo movimento irlandês, terminando por ser considerado “persona non grata”.
"Barfly - Amor Marginal"
3. - Após os acontecimentos no Festival de Cannes na conferência de Imprensa do filme “Os Guerrilheiros da Sombra” / “A Prayer for the Dying”, Mickey Rourke numa fuga para a frente, faz par com Faye Dunaway em “Barfly – Amor Marginal” de Barbet Schroeder recriando a figura do mal-amado Chinasky, o célebre alter-ego do “enfant terrible” da literatura norte-americana Charles Bukowski, recorde-se que já Ben Gazarra tinha interpretado essa personagem no magnifico filme de Marco Ferreri, “Contos da Loucura Normal” / “Tales of Ordinary Madness”.
"Derradeiro Combate"
Desta feita a interpretação de Mickey Rourke quase atinge o absurdo, tal a intensidade que incute á sua personagem, sempre à beira do abismo, mas seria esse sonho da memória, o boxe, que sempre lhe deixou marcas, que o levaria a escrever e “lutar” pela concretização do projecto “Homeboy” / “O Derradeiro Combate”, onde a lei dos ringues passa para o exterior e as marcas são de tal maneira visiveis que o irão acompanhar durante décadas, para posteriormente serem “limpas” pela cirurgia plástica, retirando-lhe do rosto parte da sua expressividade. A película onde tanto tinha investido revela-se um enorme fracasso comercial, mas a luta por um lugar ao sol de Hollywood ainda não terminara.
"Francesco"
Surge assim com naturalidade, numa tentativa de um outro registo/interpretação bem diferente do habitual (como fizera com enorme sucesso e brilhantismo o actor Rutger Hauer em “A Lenda do Santo Bebedor” / “La legenda del santo bevitore” de Ermanno Olmi), na película de Liliana Cavanni, “Francesco”, baseado na vida de S- Francisco de Assis, que passou perfeitamente despercebido de todos, e que bem merece ser redescoberto e reavaliado, para se seguirem nesse mesmo ano de 1989 mais dois filmes, em busca de um lugar ao sol!
"Um Rosto Sem Passado"
Walter Hill e o seu “Um Rosto Sem Passado” / “Johnny Handsom”, no qual vamos encontrar toda a engrenagem característica dos “movies” do cineasta e que aqui surge como se tratasse de um veículo para Mickey Rourke regressar ao universo das Estrelas de Cinema.
"Orquídea Selvagem"
Depois seria a vez de o produtor de “Nove Semanas e Meia” / “9 ½ Weeks”, tentar reproduzir o sucesso de bilheteira então conseguido e convidar Mickey Rourke para um inenarrável filme intitulado “Orquídea Selvagem” / “Wild Orchid”, com uma Jacqueline Bisset que só lá estava pelo cachet e quando toca a despir-se, não usa o célebre truque do “body double”, mas “entrega” esse “fardo da interpretação” a Carrie Otis, que não deixou os atributos por mãos alheias e se irá tornar a futura Mrs. Rourke, hoje em dia a ex-Mrs. Rourke, e que irá constituir com o actor, na época, o casal mais turbulento de Hollywood, ficando famosos pelas célebres zaragatas.
"A Noite do Desespero"
4. - Michael Cimino, o homem que levou à falência a United Artists com o seu fabuloso épico “As Portas do Céu” / “Heaven’s Gate” (esperamos que um dia ele seja exibido comercialmente na sua integra nos grandes écrans das salas de cinema, a memória de Michael Cimino, merece esse reconhecimento tardio!), convida Mickey Rourke para desempenhar o papel outrora atribuído a Humphrey Bogart (depois de George Raft o ter recusado), em “A Noite do Desepero” / “Desperate Hours”, no qual irá contracenar com o sempre excelente Anthony Hopkins e uma Kelly Lynch profundamente sensual.
"Harley Davidson e Cowboy do Asfalto"
Já em fase descendente, Mickey Rourke tenta um último fôlego com “Harley Davidson and The Marlboro Man” / “Harley Davidson e o Cow-boy do Asfalto” de Simon Wincer e em “White Sands” / “Areias Escaldantes” do australiano Roger Donaldson, mas o público já não reconhece a sua rebeldia. Os anos começam a pesar e nem “Point Blank” o consegue tirar “do poço sem fundo” onde se encontra, ao ponto de a sua interpretação nesse épico sobre o horror e a inutilidade da guerra, intitulado “The Thin Red Line” / “Barreira invisível”, realizado pelo genial Terrence Malick, ter deixado a sua interpretação esquecida na mesa de montagem.
"Era Uma Vez no México"
Depois são os “tratamento plásticos” (botox) ao rosto, em busca da juventude perdida, que falham, assim como a sua vida conjugal está arruinada, seguem-se papéis secundários em diversas películas de “segunda divisão”, ao mesmo tempo que as suas “companhias” afugentam os jornalistas, até que El Mariachi ou diremos antes “Once Upon a Time in Mexico” / “Era Uma Vez no México” o lança na ribalta novamente, assim como ao seu cãozinho de estimação, estrela da pelicula e será precisamente o realizador do filme em questão o responsável pelo seu regresso em força ao grande écran, falamos de Roberto Rodriguez, que com o sucesso de “Sin City” deu um impulso de peso no regresso de Mickey Rourke às primeiras páginas da Imprensa de Hollywood, devido ao sucesso de “The Wrestler” / “O Wrestler” de Darren Aronofsky, onde nos oferece uma memorável interpretação, terminando o actor por ser nomeado para o Oscar de Melhor Actor.
"O Wrestler"
A partir desse ano Mickey Rourke voltou a ter o estatuto de estrela de cinema, participando em diversos filmes em cada ano que passa e, como não podia deixar de ser, ele é um dos velhos heróis dessa saga dos velhos heróis dos filmes de acção, que Sylvester Stalone, também ele um regressado, após a travessia do deserto decidiu levar a bom porto, embora eles sejam todos “The Expendables”.
Rui Luís Lima
Quando Mickey Rourke surgiu no grande écran revelou-se como uma das maiores esperanças dessa legião de novos actores que estavam a surgir e o sucesso de imediato lhe bateu à porta tendo sido comparado por muitos a Marlon Brando, maslentamente a chama foi-se apagando, mas quando todos já se tinham esquecido dele, o actor ressuscitou e revelou-nos o seu enorme talento.
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