Pierre olhou em redor e todas as mesas do Café Paraíso estavam ocupadas e nesse preciso instante a porta abriu-se, deixando passar um casal fugido do deserto, em busca do céu protector, Jane e Paul ainda traziam as areias marroquinas nas suas roupas.
No lado direito da sala, Ernest contava a Francis que na véspera tinha jantado pombos, porque a dispensa estava vazia, enquanto Zelda dava gargalhadas sonoras ao ouvir o relato.
Mais um cliente que entra, é Celeste para comprar as habituais madalenas para o Marcel, ele não bebe café, só chá e raramente sai do quarto, anda em busca do tempo perdido.
Usando palavras quase codificadas André traça o rumo da sua escrita com Benjamin, mas sentada a seu lado, Nadja, uma refugiada russa, diz-lhe que o seu cachimbo está apagado: - mas isto não é um cachimbo minha cada amiga - responde ele a sorrir.
Por debaixo da arcada, Virgínia lê passagens do seu diário a Sílvia, sobre as razões da sua poesia habitar nas margens do texto, mas ela não a consegue escutar porque o seu pensamento está bloqueado em Ted.
Na mesa ao lado Madame Stein conversa com Alice, lançando o seu habitual veneno sobre os ausentes e presentes e de súbito as portas do Café Paraíso dão passagem a mais dois dos seus habitantes, são Jules e Jim que se juntam a François e iniciam uma alegre discussão do argumento do filme.
Longe de tudo e de todos, sentado no canto mais escuro da sala, o engenheiro naval observa aquelas almas, enquanto bebe o seu café e o absinto. Do outro lado da rua, o Esteves sem Metafisica, fecha a porta da Tabacaria.
Os ponteiros do relógio marcam as seis horas, Pierre vira-se na cama e acorda do sonho, mais um dia chuvoso aguardava a sua viagem até ao Café Paraíso.
Rui Luís Lima
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