quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Yukio Mishima - “O Tumulto das Ondas” / "Shiosai"


Yukio Mishima
“O Tumulto das Ondas” / "Shiosai"
Páginas: 174
Relógio D’Água

Foi através de um texto de António Mega Ferreira (*) publicado no JL – Jornal de Letras, na época em que ele era chefe de redacção, que descobri o escritor Yukio Mishima, o alvo era a publicação em Portugal de “O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar” e desde então tenho lido tudo o que encontro do autor japonês, depois temos o celebre filme que Paul Schrader realizou e essa obra incontornável que Margueritte Yourcenar escreveu sobre o escritor e disponível no nosso país graças à editora Relógio D’Água que também é responsável pela edição deste belo e singular romance intitulado “O Tumulto das Ondas” com ilustrações de Catarina Baleiras.

Estamos perante um belo romance que nos narra a história de amor entre Shinji, um jovem pescador pobre e a bela Hatsue de outra condição social, mas que não será impedimento para que a chama do amor surja de mansinho e os leve a unir esforços para ultrapassar as barreiras que os separam do Paraíso. Como já é habitual nestas pequenas crónicas aqui fica um pequeno trecho deste belíssimo livro de Yukio Mishima.

Rui Luís Lima

Yukio Mishima
(1925 - 1970)

(...) "Agora, já Shinji podia entrar livremente em casa de Miyata Terukichi. Um dia que voltava, apresentou-se à porta da casa com uma camisa de colarinho aberto, de brancura impecável, e com as calças acabadas de passar a ferro; em cada mão trazia uma dourada...
Hatsue esperava-o, já pronta. Os dois jovens haviam prometido ir ao templo de Yashiro e ao farol para anunciar o noivado e transmitir os agradecimentos.
Iluminou-se a entrada de terra batida mergulhada na meia escuridão do crepúsculo. Hatsue surgiu, vestida com aquele quimono de Verão, branco, com grandes campainhas, que comprara ao vendedor ambulante. A brancura do vestido brilhante, mesmo em plena noite.
Shinji ficara à espera, apoiando-se com uma mão à porta da entrada; baixou o olhar para Hatsue quando esta apareceu e, sacudindo uma das pernas calçadas com socos de madeira, como quem espanta os insectos, murmurou:
- Os mosquitos são terríveis!
- São, não são?
Os dois jovens subiram a escadaria de pedra que levava ao templo de Yashiro. Em vez de correrem por ali acima como poderiam ter feito, preferiram subir lentamente os degraus, com os corações banhados de alegria, como para saborearem o prazer de cada degrau." (...)

Yukio Mishima
in "O Tumulto das Ondas"

(*) - O Texto de António Mega Ferreira sobre Yukio Mishima que refiro, poderá ser encontrado no livro "A Borboleta de Nabokov". (Ed. Noticias)

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