quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Martin Scorsese - (1942) e a História dos Oscars - (1927)


Martin Scorsese e a História dos Oscars!

 “Em Hollywood diz-se:
cada pessoa tem duas profissões:
a sua e a de crítico de cinema”.

François Truffaut

"O Touro Enraivecido"

Tudo começou em 1927, o Presidente da Academia era o famoso Douglas Fairbanks, marido da não menos famosa Mary Pickford, conhecida como “a namorada da América” (o primeiro casal célebre de Hollywood) e o prémio escolhido para galardoar os melhores dos maiores foi uma estatueta concebida pelo escultor George Stanley. O nome para o tão desejado prémio ainda não estava dado e foi a Bibliotecária da Academia, Margareth Herwick, que por mero acaso terminou por baptizar o tão cobiçado prémio quando a pequena estatueta lhe passou pelas mãos: “Olhem, parece mesmo o meu tio Oscar!”. E assim, desta forma simples, foi dado o nome ao mais famoso prémio do cinema.

"A Última Tentação de Cristo"

Se formos falar nas injustiças cometidas pela Academia de Hollywood, acabaríamos por escrever um livro, tal é o número enorme de “crimes” cometidos por esta. Falemos apenas em dois, como exemplo: Alfred Hitchcock, o mais famoso cineasta da História do Cinema, tanto para a crítica especializada como para o grande público, nunca recebeu o Oscar para Melhor Realizador e no entanto quem gosta de cinema ao falar dos filmes da sua vida termina sempre por citar mais do que um filme do Mestre do “suspense”; já Orson Welles, o “wonder-boy” descoberto por Hollywood, cineasta de um dos mais importantes filmes de sempre, senão o mais importante, “Citizen Kane”, perdeu o Oscar no ano em que foi nomeado para melhor realizador, sendo posteriormente marginalizado pelo sistema, tornando-se no mais famoso “Maverick” da História do Cinema.

"Tudo Bons Rapazes"

Martin Scorsese, o maior autor da geração conhecida como “movie brats”, composta entre outros por Coppola, Spielberg, Lucas, Bogdanovich, nunca tinha recebido um Oscar para a melhor realização, tendo sido nomeado por seis vezes e por seis vezes foi esquecido pelos membros da Academia. Em 1980 foi nomeado por “O Touro Enraivecido” / “Raging Bull”, na época a indústria ainda não se tinha esquecido da guerra travada com os “movie brats” e daí o seu esquecimento premeditado, com grande escândalo, apesar de ter lavado as mãos como Pilatos ao atribuir o Oscar para o Melhor Actor a Robert de Niro, porque era mesmo impossível fechar os olhos à interpretação do actor, companheiro de “route” de Martin Scorsese.

"A Idade da Inocência"

Oito anos depois, em 1988, seria a vez de “A Última Tentação de Cristo” perder o Oscar devido à campanha feita contra o filme, por sinal uma das películas mais religiosas de todos os tempos, fazendo esquecer Cecil B. de Mille. Mas Martin Scorsese continuou a filmar como sempre fez e por mais reduzido que fosse o orçamento, ele transformava-o em obra-prima. Quando “Tudo Bons Rapazes” / “Goodfellas” surgiu, fazendo a síntese do seu universo filmíco, todos pensaram ter finalmente chegado a sua hora mas afinal estávamos todos enganados.

"Gangues de Nova Iorque"

Foi preciso esperar uma boa dúzia de anos, até 2002, depois de a indústria ter enterrado o machado de guerra e feito as pazes com os “movie brats”, para vermos Martin Scorsese indigitado por “Gangs de Nova Iorque” / “Gangs of New York”, tendo Leonardo Di Caprio ocupado o lugar deixado por Robert de Niro, como uma espécie de “alter-ego” do cineasta. Falou-se então na violência do filme como desculpa para a não atribuição do Oscar. Scorsese não desistiu da sua luta e, dois anos mais tarde (2004), realizou uma obra fabulosa sobre a vida do magnata Howard Hughes, “O Aviador” / “The Aviator”, dentro dos parâmetros tão queridos dos membros da Academia e mais uma vez foi esquecido. Decididamente Martin Scorsese tornara-se o último dos “Mavericks”.

"O Aviador"

Qualquer pessoa que fale com Martin Scorsese acerca da História do Cinema ou o veja a falar sobre a Sétima Arte fica profundamente deslumbrada pelo amor com que ele nos fala do cinema e não é só a velocidade com que fala que nos seduz, mas também a sua famosa luta para preservar a memória do cinema, com o célebre duelo com a poderosa Kodak, devido à famosa película se degradar a uma velocidade vertiginosa, como a sua batalha para a restauração de filmes e divulgação da História da Sétima Arte.

"The Departed - Entre Inimigos"

Basta visionarmos essa obra intitulada “Uma Viagem pelo Cinema Americano”, realizada aquando dos 100 anos do Cinema, para ficarmos profundamente fascinados por esta personagem. Recorde-se que “Taxi Driver” não foi candidato ao Oscar de Melhor Realizador.

"A Invenção de Hugo"

E assim chegamos à sétima nomeação de Martin Scorsese para o Oscar de Melhor Realizador e desta feita o cineasta decidiu seguir em frente e fez um filme no interior do seu universo, “Entre Inimigos” / “The Departed”. De tal forma estava desiludido com a Academia de Hollywood que nem participou na campanha levada a cabo pelo Estúdio.

"O Lobo de Wall Street"

Quando vimos no palco do Kodak Theatre esse trio de “movie-brats” composto por Coppola, Lucas e Spielberg, com o envelope na mão, todos os olhares se voltaram para Martin Scorsese, porque era impossível haver um trio sem Quarteto e finalmente o seu nome foi pronunciado. A alegria de Martin Scorsese foi tão grande que, quando Jack Nicholson anunciou que “Entre Inimigos” ganhara o Oscar de Melhor Filme, Scorsese nos bastidores nem se apercebia do sucedido, tendo sido Steven Spielberg a dar-lhe a notícia e o abraço dado por Jack Nicholson ao cineasta diz muito mais que todas as palavras que ainda possamos escrever.

Francis For Coppola, Martin Scorsese,
Steven Spielberg, George Lucas.

Finalmente fazia-se justiça e recorde-se que este Oscar há muito merecido não foi pela carreira, como alguns pretenderam interpretar o gesto da Academia de Hollywood, ele foi pelo filme “Entre Inimigos” / “The Departed” uma película acima de qualquer suspeita, uma obra-prima do cinema em todas as suas vertentes. Recorde-se que a película recebeu os Oscars para Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Montagem e Melhor Argumento Adaptado.

“O Irlandês”

Mas o célebre “eterno retorno” levou Martin Scorsese a realizar “The Irishman” / “O Irlandês”, em 2019, com Robert De Niro e Al Pacino nos protagonistas, tendo em 2020 o filme sido nomeado para 10 Oscars (leu bem), mas a Academia de Hollywood nem um Oscar atribuiu ao filme.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. A história dos Oscars está repleta de injustiças segundo alguns e Martin Scorsese um dos realizadores mais vezes nomeado para o Oscar é um desses casos, já que apesar das inúmeras nomeações que teve para o Oscar ao longo da sua maravilhosa carreira, apenas conquistou uma vez o Oscar para Melhor Realizador pelo filme "Departed" / "Entre Inimigos" e assim a Academia de Hollywood reconheceu finalmente a genialidade de um dos mais importantes cineastas da história do cinema.

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