"O Couraçado Potemkine" / "Bronenosets Potemkine"
(Russia– 1925) – (73 min. / Mudo)
Aleksandr. Antonov, Grigori Alexandrov, Mikhail. Gomorov, Ivan Brobov.
Quando o filme “O Couraçado Potemkine” foi recebido em apoteose pelas autoridades do Kremlin, Sergei Eisenstein nunca pensou que, muitos anos depois, se iria tornar numa “persona non grata” do regime, ao realizar a segunda parte de “Ivan O Terrível”, recorde-se que Estaline achou que o filme não retratava o czar de todas as Rússias, mas sim ele próprio, decidindo pôr ponto final na carreira do cineasta. Mas regressando àquele que é porventura o mais famoso filme de Sergei M. Eisenstein, iremos descobrir nele uma das maiores obras-primas de sempre e nunca nos poderemos esquecer a influência que este filme teve na história do cinema.
Sergei M. Eisenstein irá em “O Couraçado Potemkine” aplicar a mais perfeita simbiose entre música e imagens, através da música de Edmund Meisel (existem mais duas bandas sonoras), construindo uma verdadeira sinfonia de uma complexidade até então nunca vista e a forma como ele nos oferece o quotidiano dos marinheiros a bordo do navio é fruto de uma montagem mais-que-perfeita. Tudo neste filme respira cinema e ao (re)vermos a película neste século xxi, só podemos comprovar o génio do seu criador.
Esta obra, que foi uma encomenda do então Estado Soviético, para ser estreada nas comemorações do aniversário da Revolução de Outubro, revelou-se um dos maiores veículos de agitação e propaganda da História do Cinema influenciando gerações de cineastas, sendo proibido em diversos países incluindo Portugal que só o viu pela primeira vez nessa catedral do cinema que foi o Cinema Império em 2 de Maio de 1974.
“O Couraçado Potemkine” relata-nos a revolta dos marinheiros do navio com o mesmo nome devido às condições miseráveis da comida, peças de carne em que eram bem visíveis os vermes. De imediato um grupo de marinheiros revolta-se e o Comandante do Couraçado decide colocá-los perante um pelotão de fuzilamento, ao mesmo tempo que lhes colocava uma lona por cima deles para não verem a morte a chegar ao interior dos seus corpos. Mas, quando a ordem é dada, o pelotão de fuzilamento recusa-se a disparar e nasce o célebre motim. Os superiores são enviados borda fora e o Couraçado cai nas mãos dos marinheiros. Porém, durante a luta, o seu líder é morto e decidem rumar para o porto de Odessa para o sepultarem em terra. Iremos então assistir a esse movimento de gentes das mais variadas condições sociais que, em terra, lhe irá prestar uma última homenagem, construindo aqui Eisenstein uma das mais soberbas movimentações de massas que o cinema nos ofereceu.
Fundeado no porto de Odessa, o Couraçado e os seus tripulantes irão de súbito assistir a uma carga dos Cossacos sobre a multidão, espalhando a morte e o terror, numa sequência que se tornou mais que famosa, tantas vezes citada, ao longo de décadas na História do Cinema: os grandes planos dos rostos; o carrinho com o bebé que cai pelas escadas; a marcha dos cossacos com as espingardas a cuspir fogo; a multidão em fuga desordenada e arrepiante.
O cineasta conta-nos nas suas memórias que, ao chegar a Odessa para preparar as filmagens, percebeu que aquelas escadas iriam ter uma importância enorme no seu filme e de imediato tratou de encenar a famosa sequência, chegando ao ponto de atar câmaras ao corpo de equilibristas para assim obter ângulos até então nunca imaginados. E a forma sincopada com que nos é oferecida a montagem das mesmas, transforma este momento num dos mais espantosos da sua filmografia.
Ao verem o massacre que se desenrola em Odessa, os marinheiros viram os canhões do Couraçado Potemkine para a cidade e tratam de destruir o local onde se situa o quartel-general das forças que esmagam a multidão, partindo de seguida ao encontro inevitável da esquadra russa, que os persegue e quando se espera o confronto naval, a mensagem enviada pelos revoltosos, lembrando que são todos irmãos, faz com que os seus companheiros de armas não abram fogo.
Sergei M. Eisenstein de megafone na mão
a dirigir uma sequência do filme.
Curiosamente, na época, algumas potências ao verem as imagens da esquadra russa ficaram perplexas, desconhecendo que essas mesmas imagens eram retiradas de um jornal de actualidades e pertencentes a uma nação ocidental, mas a forma como Serguei M. Eisenstein as montou, conseguiu ludibriar tudo e todos.
Sergei M. Eisenstein
(1898 - 1948)
Durante largos anos “O Couraçado Potemkine” figurou nas listas dos dez mais importantes filmes de sempre da História do Cinema, ao lado de “Um Nascimento de Uma Nação” de D. W. Griffith, de quem Sergei M. Eisenstein era admirador e de “Citizen Kane” de Orson Welles e ao (re)vermos em DVD esta película, ficamos na verdade deslumbrados pela magia cinematográfica que emana das suas imagens. Uma obra-prima absoluta.
Nota: No DVD que visionámos estão disponíveis as três bandas sonoras, sendo a de Meisel a mais perfeita, as outras pertencem a Kriulov e Chostakovich.
Rui Luís Lima
Durante décadas este filme de Sergei M. Eisenstein -
ResponderEliminar(1898 - 1948) - surgiu classificado como um dos dez filmes mais importantes da história do cinema. Não sei se nos dias de hoje tal seria possível fruto dos novos gostos da crítica cinematográfica.